Era uma vez um lugarzinho escondido em meio a um mar de montanhas de café, situado no encantado Estado de Minas Gerais. Entre suas estradas, já asfaltadas pelo rápido crescimento de seu povoado, surgiam deslumbrantes cachoeiras, em grande parte escondidas em meio a mata. Suas quedas formavam piscinas de água quase cristalina, cheias de energia revitalizadora, doada pelo equilíbrio perfeito de minerais da terra e seres mágicos ali existentes, que poucas são capazes de ver ou sentir. Mas eu sim, agora sim.
Na cidade onde parte da família mora, há um acolhimento daqueles que aquece o coração e trás paz para a alma. É como se as pessoas te conhecessem há muito tempo e ainda se interessassem pelo que você tem a contar, as dores que te fizeram crescer e o amor que tem pra dar.
E mesmo com um certo tráfego de transeuntes e veículos, o passo ainda é devagar, como se a avida acontecesse em cãmera lenta e fosse possível sentir tudo a sua volta e dentro de você.
Quando fui lá pela primeira vez não percebi nada disso. Quero dizer, estava tudo lá: o cheiro da mata exuberante e dos cafés especiais recém coados, o abraço, a sabedoria e as risadas sinceras daqueles que acabara de conhecer e as águas curativas de mamãe Oxum. Exceto eu. Eu havia me perdido tantos anos antes que meus dias ali não passaram de uma experiência extremamente agradável de férias do trabalho.
Dessa vez foi diferente. Não estava de férias, ao menos não do trabalho, porque na teoria não tenho um. Trabalho, de acordo com a sociedade capitalista, é algo que se faz por dinheiro, pra pagar as contas e adquirir coisas desnecessárias que fomos convencidos de que precisamos. O trabalho mais verdadeiro que pude desempenhar nos últimos anos foi o de viver pelo simples prazer de existir, para sentir, para crescer, para dividir histórias.
Bom, não foi assim no último ano. Não tem sido assim desde que a pandemia chegou e tive que voltar ao Brasil. Foram muitos meses de dor, angústia, ansiedades, medos e perdas. Cheguei achar que a pessoa que reencontrei lá fora estava morrendo novamente. Até chegar nessa pequenina cidade, pela segunda vez.
\”Estou indo para Espera Feliz semana que vem, você quer ir?\”, disse meu pai. Em uma cidade de aproximadamente