Um adendo sobre abusos…

Quando abri o instagram hoje para postar lembrei que o meu último post havia sido sobre cair e aprender a voar.

Interessante porque eu já vinha refletindo sobre o que nos leva a cair, o quanto é dolorosa a queda e o quão realmente evoluímos pela dor.

Algumas quedas são tão violentas que algumas pessoas jamais se recuperam e muitas nunca mais voltam a ser quem eram. Bom ou ruim, cair pode sempre levar a uma transformação quase inevitável.

A queda a que refiro aqui foi literal, não obstante consequência de um despencar metafórico, lento e gradual. Nesse caso, não tenho como separá-las por completo. Mas maior do que a dor física é a dor do coração.

Dói saber que a queda era prevista. “Eu estou à ponto de ter um troço”, disse há umas semanas atrás. Viajei por dois dias para tentar recuperar as minhas energias, acreditando que sair da sufocante São Paulo ajudaria-me a deixar para trás o que vinha me fazendo mal . Claramente não foi o suficiente. Como se eu tivesse clareza de tudo que me estivesse tirando a alegria. Um apagão e caí de cara no chão, sem saber como aconteceu.

Um recurso conhecido do meu corpo quando sinto muita dor. Ele me desliga. Só nunca achei que pudesse acontecer quando a dor não fosse física. Mas minhas energias se foram e desmontei como um prédio sem fundação.

Há meses comecei a despertar para questões mais profundas sobre abusos. Uma delas sobre o quanto eles tiram a nossa energia, a nossa vitalidade. Deixamos partes nossas para trás ou deixamos que eles encubram necessidades, lacunas inconscientes, aquilo que não podemos ver?

As exigencias a que nós mulheres somos submetidas para atender aos padrões podem ser tão imperativas quanto submersas nas profundezas da nossa mente. Parece contraditório, mas não é.

Paremos para pensar por um segundo o quanto abusamos de nós mesmas, condicionadas a sermos abusadas pela tal da sociedade patriarcal, a qual frequentemente menciono. 

Abusamos da nossa força, negando os nossos limites porque crescemos sendo tão cobradas e responsabilizadas por tudo, que de modo automático, quando não é o outro a fazer, fazemos conosco. 

Não aprendemos a confiar nos nossos instintos, na sabedoria mais sagrada que o ser mulher tem. Não sabemos como nos acolher, como nos acalmar. 

Podemos ser otimistas, trabalhamos a nossa fé e acreditamos mesmo que tudo passa e que tudo vai dar certo.  Mas é um otimismo proveniente de uma intuitiva crença no nosso divino ou da experiência? Afinal, já passamos por tanta coisa e estamos aqui vivas! Vivas? De que forma permanecemos realmente vivas depois de passarmos por situações traumáticas?

Eu fico com a primeira opção. Porque o aprendizado pela dor não tem me impedido de cair. Sem dúvida tem me ensinado a voar, procurar novas formas de viver, tentar sentir o que é melhor para mim e buscar me libertar de tudo que me impede de crescer. Mas verdade verdadeira é que não acredito que deixaremos de cair. A questão é: como continuaremos a cair?

Porque o que não podemos é continuar caindo sem perceber, movidas por um inconsciente cheio de gaps, alheias à realidade, social e individual!

Senti que comecei a cair há meses. Mas não soube o que fazer para impedir o empurrão repentino do meu corpo que esfregou meu rosto no chão. 

Fui \”vivendo\”. Na realidade, levando. Vivendo mesmo eu tava num passado recente e confortável, assim como na expectativa de um futuro incerto. Meu presente é uma página em branco, na qual não tenho sabido muito bem como escrever.

E quantas de nós estamos vivendo assim? Por mais conscientes que tentemos ser, por mais anos de vida que já tenhamos vivido por que continuamos a abusar de nós mesmas e permitimos que o externo nos afete tanto?

Somos fortes, mas jamais fortalezas. Temos um limite humano e imperfeito do não se deixar abalar, com certeza. Mas precisamos estar atentas aos abusos que nos sujeitamos todos os dias, começando com os primeiros pensamentos que temos ao acordar. O auto-abuso pode ser imensamente mais danoso do que o abuso sofrido numa relação.

E, por favor, não se trata de culpabilização de vítima, jamais. Estou aqui pretendendo chamar a atenção para questões mais profundas de abuso.

O \”mais amor, por favor\” deve partir de dentro. Cuidar de nós mesmas como o bem mais precioso do mundo deve ser um hábito tão arraigado quanto o que temos de nos autocriticar, comparar e limitar pelos modelos impostos pelo mundo a nossa volta.

Parar os abusos significa primeiramente conhecer nossas fraquezas, reais anseios, colocar o ego no lugar dele e ouvir a nossa alma, pois é lá que guardamos o nosso sagrado, é de lá que vem todas as intruções para o caminho da felicidade.

Paremos para pensar antes que algo nos pare!

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