Sexo & Amor, de Sócrates a Erich Fromm e todos os homens com quem já estive…

Se para Sócrates questionar significa amor à sabedoria ou amor à verdade, eu diria que minha alma tem almejado algum forma desse amor durante toda a minha vida. Uma espécie de amor que traria compreensão, não só de um para com o outro, mas para o todo. Compreensão, não através de certezas, logicamente baseadas em pensamentos ilógicos, mas através do reconhecimento das dúvidas, da humilde curiosidade existente em cada ser humano. Um tipo de amor que realmente veria as diferenças como solo fértil para o crescimento. Uma união respeitosa que não se baseia em hipocrisia, padrões ou mentiras. Um compromisso que não implica apego, que cerceia os indivíduos, estabelece limites para sonhar e realizar, mas impulsiona, cria conflitos saudáveis, discussões e comunicação aberta que leva ao desconhecido, a uma vida emocionante cheia de perguntas e não de respostas.

A atração física nunca foi suficiente para me agradar, embora o prazer exista desde que me lembro como garotinha. Encontrei minha pequena porta para a alegria corporal de forma muito inocente, mas fui acusada e considerado culpada de tocar meu próprio corpo. No mundo contemporâneo, uma menina não pode sentir prazer, porém deve, se o pedido vier de um homem. As mulheres aprendem a brincar de esconde-esconde de maneiras muito estranhas, cruéis, negligentes e abusivas. Crescemos numa caverna de Platão a qual chamo de patriarcado, vendo apenas o que nos é mostrado, tendo os homens como sombras e deuses, maus, punitivos, assassinos, a quem é melhor agradarmos, aconteça o que acontecer. Devemos ser gentis com eles, dar-lhes atenção, tendo nossos corpos, mentes e vidas moldados e servidos para sua satisfação. As mulheres são criadas para amar os homens, muito antes de aprenderem a amar a si mesmas.

Oh não! O amor erótico em si nunca me satisfez. O amor romântico, este inventado pelos homens, possessivo, ciumento, inseguro e destrutivo nunca significou amor ou mesmo sexo. Não para mim. Alguma parte de mim, da minha ingênua menina filha de Afrodite, sabiamente nunca separou o amor do sexo. Desde o seu primeiro auto-toque, lá no fundo, da sua consciência espiritual e conexão com a sua verdadeira natureza selvagem, ela sabia que toda conexão física não poderia ser boa sem a energia do amor, e embora toda a dor que o patriarcado tenha me causado em tantos níveis, nunca odiei os homens. Minha compreensão de sua inserção nessa estrutura brutal me faz amar todos eles, mesmo que às vezes não goste de alguns deles.

Porém, demorei uma vida inteira para entender os padrões de relacionamentos e minhas preferências, e mergulhar na minha liberdade, tanto quanto uma mulher pode ser livre neste mundo. Embora culpada por ser diferente, por buscar a minha verdadeira felicidade, só permiti que meu corpo fosse tocado pela primeira vez por um homem que me amasse. Eu não sabia por que naquela época, mas agora sei. Meu corpo e minha mente são tão sagrados que nenhum sexo por puro prazer vale a pena, sem nenhuma conexão intelectual ou emocional. Então mergulhei fundo em um amor que não era real, mas manipulado, dominador, que me colocou em uma gaiola, e sugou minha energia até que não sobrou quase nada, além dela: minha menina, minha potente força criativa que me leva à alegria e uma vida significativa.


Ela me salvou e por muito tempo as palavras de Erich Fromm me derrubaram em mais um círculo de culpa estabelecido para punir as mulheres quando elas são as vítimas. “Por que preciso dele agora se não precisava antes? Como me tornei tão fraca quando era tão forte, ambiciosa e independente?”. Achei que tinha vivido um amor imaturo. Bem, talvez o amor patriarcal nada mais seja do que um bando de pessoas que lideram o mundo, embora nunca tenham aprendido a amar outro ser humano como igual. Eu não o amei imaturamente, eu o amei, e ele tomou isso como certo, usou meu amor contra mim, lentamente tirando minha vida de minhas mãos, cortando minhas asas, me deixando nua de minhas camadas de proteção apenas para ele ver, até que finalmente acordei e reivindiquei minhas asas, minha vida e meu amor próprio de volta.

Na minha jornada para me reencontrar, descobri que meu amor é enorme, muito mais que paixão, que necessidade de estar com outro corpo, e até necessidade de culpar e não perdoar quem me causou dor. Esse amor é quase ágape, não consigo amar mais um ser do que outro, e minha conexão com a natureza abrange exatamente o mesmo amor. Embora eu escolha lealdade e dedicação a apenas um de tempos em tempos.

Curiosamente, continuo sendo julgada por usar meus instintos para escolher com quem quero que entre em mim, com quem compartilho do amor, se muitos ou nenhum. Se por uma noite, dias, meses ou anos. Querer energia recíproca não é egoísmo, e dei meu amor a todos os homens com quem estive e até mesmo àqueles que nunca me tocaram. Porém, optar por compartilhar é saber o quanto somos bons em amar, principalmente a nós mesmos, e sentir que tipo de amor vem do outro lado, se assim houver. Não sou nenhum animal. Sou pelo menos um ser racional que se apoia nos poucos direitos que me foram concedidos nos últimos anos para apenas…ser! Bem, se não é permitido à minha intuitiva Afrodite escolher, sempre que escolho amar e expressá-lo através do sexo, isso cabe a mim e somente a mim.

Quanto aos biologismos usados pelos homens velhos e brancos, principalmente, para nos envergonhar por nossos desejos justos e liberdade honesta, ao mesmo tempo em que justificam seus impulsos de possuir mulheres e trair, vou lhe dizer uma coisa: a quantidade de testosterona que você argumenta a favor de suas atrocidades não controla seu cérebro e comportamentos nesse nível. Como bióloga, garanto isso. Como mulher, ouso dizer que suas inseguranças são tão grandes que você buscará todas as desculpas que encontrar para continuar sendo imaturo no amor e passar a vida existindo pelo seu ego.


Mesmo assim, continuarei amando, cada pedaço de mim e de você, imperfeitos como somos, questionando a natureza de nossos pensamentos, à maneira de Nietzsche, não porque assim me ensinaram, mas porque é minha vontade, optando por fazê-lo de perto ou distante, ainda à espera de um verdadeiro amor socrático, que não tenho procurado, pelo fato de que EU SOU A PORRA DA MINHA DEUSA! Não há necessidade de procurá-lo.

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