Por problemas de confiança, nos homens e em mim mesma, ainda muito nova passei a acreditar que passaria o resto da vida solteira, autossuficiente e feliz para sempre na minha torre de pedra. Mas me esqueci completamente do meu lado Cinderela e la no fundo estava sempre buscando alguém para compartilhar a vida comigo. Inconscientemente, estabeleci um padrão. Insegura de mim mesma o cara teria que ser um Principe para que eu me desse ao trabalho de jogar a minha tranca e descer da minha torre. Assim, todos os meus namorados tinham que enfrentar batalhas e provar o quanto me amavam para estar comigo. Me casei com aquele que acreditei ser o mais perfeito deles.
Levei anos de casada para que eu me desse conta de que de fato ele so queria mesmo o meu lado Princesa. Sofri uma maldição de contos de fadas tentando manter, mas ao mesmo tempo mudar, os protocolos daquele Casamento Real. Nao consegui e tive que voltar para a floresta, mundo que havia deixado ha muito tempo e no qual não sabia mais como sobreviver.
Assim como Branca de Neve eu queria ser livre e ao mesmo tempo encontrar alguém que realmente gostasse de mim e de todos os meus sete amigos homens super íntimos. Esse sim, seria \”o cara\”!
Depois de dois anos beijando sapos e redescobrindo a minha sexualidade e prestes a embarcar numa viagem ao exterior da qual não tinha a menor ideia de quando iria voltar conheço \”o cara\”. Esse era especial, esse era diferente. Esse não era perfeito, eu pensava. Gostava de beber e de um bom samba, como eu. Esse não era perfeito, ele fazia Happy Hour com os amigos, como eu. Esse era real. A química era incrível. Como era o sexo com o Principe Encantado mesmo?
Dois meses perfeitos juntos e parti para a minha viagem, com todo o apoio do meu namorado real. Depois de um mês vivendo fora ele me pediu em casamento por mensagem de texto, bêbado, morto de saudades de mim. Esse era o cara. Mas quem era eu mesmo?
Somente recentemente me dei conta de que estava interpretando um novo conto de fadas, mas com um príncipe e enredos diferentes, com exceção da Cinderela que vos fala.
Acabei não voltando. Algo dentro de mim me dizia que eu tinha que ficar, que ainda não era a hora. Terminei oficialmente com \”o cara\” tempos depois, mas continuamos a nos falar como grandes amigos e ele se tornou referencia de um grande homem para se ter ao lado. Ele sim, seria a pessoa certa para mim.
Vivendo fora resolvi viver a vida intensamente, me arriscar, me expor. Nos contos de fadas atuais isso inclui tentar aplicativos de relacionamento. Me joguei, sem paraquedas nesse mundo virtual nem um pouco encantado.
Em um desses encontros acabei conhecendo um cara, um verdadeiro Shrek. Nada perfeito. Cheio de medos. Com pavor de intimidade. Totalmente fechado. Passávamos dias sem falar ou se ver. Me deixava toda insegura. Ate que eu recebia ou mandava uma mensagem e nos encontrávamos, no pântano dele, sempre, isolados da civilização. Nao saíamos de la de jeito nenhum. Eu estava mentalmente sempre comparando-o com \”o cara\”. Ate que um dia resolvi dar um ultimato, do tipo \”ou voce muda ou vamos acabar não nos vendo mais\”. No fundo sabia que não veria aquele ogro nunca mais. Mas por que chorei e desabei ao perceber isso um tempo depois?
Com todo o meu orgulho, acreditando ser autoestima, segui na minha busca pelo \”cara\”. Encontrei algumas opções, mas nenhuma me serviu. E de vez em quando eu sentia uma falta enorme do Shrek. Comecei a pensar no porque daquela saudade. Percebi o quanto ele era carinhoso quando estávamos juntos. O quanto me fazia sentir segura no seu abraço. E apesar de não sair comigo, não se importava que eu saísse sozinha com os meus amigos e chegou ate a me buscar na casa deles uma vez. Mas o que mais me doeu foi lembrar que no dia em que lhe dei o ultimato eu estava tão certa quanto ao que estava fazendo que não prestei atenção quando ele disse que gostava de tudo em mim, citando a minha personalidade em primeiro lugar.
Lembrei me de anos atrás quando a minha irmã se separou do seu príncipe. Ela, em seguida ja engatou num namoro com um Shrek, o oposto do seu ex. Os seus amigos eram mais importantes na vida dele do que ela. Ele não lhe dava a atenção que ela desejava e merecia por ser tão dedicada a ele. A vi chorar por muitas vezes. Nao conseguia entender. Como ela poderia aceitar ele não trata-la como uma princesa? Com certeza era falta de autoestima, eu pensava.
Hoje eu consigo entender perfeitamente. Parte dela sabia que ela precisava daquele relacionamento. Ele lhe deu toda a liberdade para que ela viajasse e investisse na sua carreira. Aquele cara fez com que ela focasse em sua propria vida e se tornasse mais realizada como mulher hoje. Aquele relacionamento fez com que ela saísse do ciclo vicioso dos contos de fadas tradicionais. Nao, não era falta de autoestima. Hoje ela tem a oportunidade de reescrever o seu próprio conto de fadas imperfeito e me inspira a escrever o meu.
Quanto ao \”cara\”? Nao penso mais nele. Na verdade penso. Penso em quanto ele não me conheceu de verdade. Penso em quanto ele me enxergava perfeita, assim como os anteriores e em quanto eu o enxergava perfeito assim como o Principe Encantando.
Nao me leve a mal, não ha nada de errado em querer ser um princesa, desejar ter alguém ao seu lado e que esse alguém te trate muito bem, isso é uma questão de autoestima. Mas podemos escrever nosso próprio conto de fadas, verdadeiro, que nos ajude a crescer individualmente. Sem príncipes encantados perfeitos e princesas precisando ser salvas, por favor!