Uma noite e nada mais; com carinho, por favor!

Aprender a ser dona dos meus desejos e do meu nariz não era tarefa fácil pra mim. Nunca foi. Antes do Príncipe Encantado eu me escondia atrás da minha racionalidade insana para não perceber os meus mais íntimos anseios. Sentir não era comigo. Sentir dói. Por isso, nunca fui do tipo que transava com o cara na primeira noite. \”E se ele não me quiser mais porque eu fui fácil?\”, pior: \”e se eu gostar de estar com ele e ele não me ligar porque já teve o que queria?\”. As minhas inseguranças silenciosas, escondidas até de mim mesma, fizeram com que as minhas experiências sexuais se resumissem aos meus namorados. Acho que se tive uns três caras do tipo \”uma noite e nada mais\” que acabou por não virar um namorado foi muito!
Mas então eu me peguei depois dos 30, divorciada e cheia de autoquestionamentos quanto a minha sexualidade e sensualidade. Para ser bem sincera o primeiro cara que beijei depois que me separei me tomou mais de três horas de conversa e algumas cervejas para me encorajar. \”Será que eu ainda sabia beijar?\” eu pensava. Aí vem o primeiro beijo e você percebe que é como andar de bicicleta, depois que se aprende nunca se esquece.
Muitos outros beijos e outros caras vieram depois. E simplesmente parei de me preocupar com o que eles iriam pensar se eu fizesse isso ou aquilo. Acho que foi a apropriação da minha independência como mulher, no mais amplo sentido, que fez com que eu ligasse o foda-se.
Mas muito embora eu tenha assumido a minha liberdade sexual uma coisa ainda me incomoda muito: a frieza com que frequentemente uma noite e nada mais é conduzida. É impressionante como as pessoas (mulheres também, diga-se de passagem) tratam realmente o outro como um objeto de prazer instantâneo. Confesso que já quase me arrependi amargamente de ter transado com alguns caras. Não porque o sexo não foi bom, mas porque foi…sexo! Tão somente sexo!
Uns dias atrás uma amiga me chamou para ir num samba. Eu amo samba! Não há nada melhor para me alegrar do que ouvir o som de um bom cavaco tocando aquelas músicas das antigas. Eu ainda estava muito mal por causa de \”vocês sabem quem\” e resolvi ir, precisava ir.
Chegando lá no samba vi que um dos músicos em quem dei uns beijinhos há um tempo atrás (eu juro, só uns beijinhos!) estava lá. Ele me viu e me cumprimentou. No intervalo veio falar comigo e me disse que estava mudando para outra cidade. Foi uma conversa bem normal e curta, como outras tantas que tivemos em intervalos do samba. Aliás foi só isso que tivemos após os \”beijinhos\”. Ele me mandou mensagem algumas vezes, mas não tinha muito assunto, acabei não dando muita bola e ele, claro, desistiu.
Passados alguns minutos daquela conversa eu me pego de novo pensando no filhote de Napoleão. Então, num impulso (bom, geralmente é assim que acontece, não é mesmo?) virei para a minha amiga e falei que iria dar um pouco mais do que uns beijinhos no Pagodeiro naquele dia. Ela disse \”vai sim, ele é gatinho e você já tá aqui mesmo\” e riu. Eu ri também, porque foi exatamente isso que eu pensei.
Mandei a ele uma mensagem perguntando o que achava de tomarmos uma cerveja antes da sua mudança. Horas depois, quando eu achei que ele já tinha \”cagado\” para mim (compreensível de certo modo rs), ele respondeu que achava ótimo e que podia ser naquele dia mesmo – exatamente como o planejado (menina má!).
Bom, ele já estava indo embora e me ofereceu carona. Para a minha primeira surpresa fomos conversando todo o caminho, super espontânea e descontraidamente. Totalmente diferente do cara \”devagar\” das mensagens. Chegamos na casa dele e o clima de descontração continuou. Ele, super atencioso, naturalmente pegou na minha mão enquanto ainda conversávamos sobre alguns instrumentos musicais que ele tinha na sala e me levou para o quarto. Todo fofo entrou embaixo do edredom, me levando com ele.
Aquela noite foi incrível! Totalmente surpreendente! E não estou falando do sexo. O sexo foi muito bom sim. Mas a melhor parte: ele me procurou várias vezes durante a noite pra me abraçar. E eu felizmente correspondi. Era tudo o que eu precisava!
No dia seguinte viemos conversando todo o caminho para a minha casa também. Ao nos despedirmos só nos beijamos e dissemos tchau! Não nos vimos mais. E, honestamente, nunca quis vê-lo de novo imaginando que todo aquele carinho significasse qualquer outro tipo de interesse de ambas as partes a não ser o de estarmos juntos em um dado momento.
Depois disso fiquei pensando em quantas vezes tive vontade de dizer a alguém: “Cara, não é porque eu não estou pensando em ter um relacionamento com você que eu não possa ser carinhosa! Se não gosta, vaza!\”. Sério! Algumas pessoas tem um medo tão grande de serem mal interpretadas pelo seu gesto que passam a vida em seus casulos de gelo.
Sexo sem compromisso sim, sexo sem afeto não!
Mais carinho, por favor! Você não precisa estar comprometido com alguém para se importar.

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