E aí, gata? Tá se sentindo sozinha, de saco cheio da pandemia e quer um abraço forte para te fazer sentir mais segura? Um colo tonificado para você colocar o peso das suas frustrações? Aquele sorriso branquíssimo para iluminar o seu dia? Lavar a roupa suja em um abdômen másculo?
Então, baixa esse app aqui que você vai encontrar! Ou aquele outro também. Ah, tem mais uns três ou quatro que você pode tentar para encontrar o cara que vai resolver todas as carências e problemas da sua vida. Ou se estiver só a fim de sexo também, basta marcar essa opção no seu perfil e tá feito!
Mas aí, lembre-se de colocar as suas melhores fotos hein! Sabe aquela de biquíni, mostrando suas curvas? Também aquela da passagem do ano, num belo vestido, toda trabalhada no make, bebendo e brindando? Sempre com sorriso no rosto, por favor, ninguém gosta de mulher carrancuda! Posta também uma com a família, assim não vão achar que você é desgarrada, independente… livre!
Pois é! É assim que me sinto nos aplicativos de relacionamento de modo geral. Um produto em um mercado cada vez mais competitivo que se tornou o das relações pessoais ou românticas, tendo que fazer um auto marketing filho da puta para fazer parte desse nicho e ser A escolhida.
Parece que não posso dizer muito para não cansarem de \” me ler\”, nem pouco para não me mostrar desinteressada. Não se pode exagerar na produção das fotos para não criar altas expectativas, mas se deve omitir gordurinhas, celulites, marcas na pele, rugas pra não assustar e passar no teste de qualidade.
E quando der match prepare-se para receber os mais absurdos, indiscretos e pornográficos elogios, sem contar a agressividade dos nudes.
Se você já fez compras online preste atenção nos itens \”detalhes\” ou \”características do produto\”. Tamanho, cor, estado, informações técnicas, preço. É exatamente assim que os apps descrevem os perfis. Sem diferença nenhuma o nosso valor passa a ser determinado por esses dados, juntamente com as fotos, de forma óbvia. A nossa auto descrição parece pouco importar.
Num mundo onde as mulheres são objetificadas há séculos não consigo mesmo me identificar ou gostar de conhecer pessoas dessa forma. Sinto me mais ainda como um material de uso à bel prazer dos homens.
Mas, por favor, esse não é um texto de ódio ou cancelamento dos aplicativos! Já usei em alguns momentos da vida, embora não curta de verdade.
Como já falei aqui em outros textos, sou uma pessoa de pessoas e ficar solita comigo durante muito tempo, apesar de amar minha própria companhia, é entediante, uma rotina, algo que preciso quebrar de vez em quando. E tá tudo bem. Cada um tem o seu jeito, sua personalidade e seus objetivos. Também sabemos da máxima de um mundo virtual e impositivo do qual temos limitações para escapar.
Só atente para o quê os apps podem significar para você. Fique esperta para os tipos de conversa que você está tendo com aquela nova pessoa. Pergunte-se o que quer de alguém e o que busca de fato no aplicativo. Escute a si mesma. Sua intuição está sempre ali para dizer para onde e também com quem ir.
Se você, assim como eu, gosta de conhecer pessoas novas e interessantes, e quer a reciprocidade de alguém de verdade, que queira te enxergar para além de um objeto, pesquise melhor sobre os tipos de aplicativos que existem por aí.
Não que você vá conseguir fugir da sociológica da objetificação feminina e, no caso dos apps, das pessoas de forma geral. Mas você pode encontrar algum cujas ferramentas de apresentação ou proposta seja mais adequada ao que procura. Por isso a importância de saber quem você é e o que se quer.
Sugiro dois aplicativos para quem se sente preparada para conhecer alguém online e está cansada dos mais conhecidos no mercado.
Um que gostei muito, foi o OKCupid, que pode ser usado no Brasil, mas infelizmente não possui versão em português. O aplicativo é muito mais detalhista quanto a personalidade e objetivos dos seus usuários. Isso permite que as pessoas verifiquem o nível de compatibilidade com o outro.
Embora ainda seja impessoal (todos são) e leve em consideração estatísticas para um possível match, só o fato de exigir que as pessoas sejam mais específicas e reflitam no preenchimento do perfil já é um diferencial na seleção dos seus usuários.
O outro é o Bumble. Seu diferencial é o fato de mulheres serem as responsaveis pela iniciativa da conversa. Temos 24horas para isso, senão o match é excluído. Ou seja, se você deu match com alguém, mas analisou melhor o perfil e sentiu que deveria desistir, não precisa se preocupar com um cara te importunando insistentemente.
A outra pessoa também possui o mesmo tempo para responder depois que você manda o primeiro Oi. É interessante porque minimiza a quantidade de homens cujo o único interesse é o de acumular os tais contatinhos. O cara tem que estar comprometido ao menos em conversar com você!
Porém, por favor, não considere esses apps como indicações! Estar ou não num aplicativo de relacionamento e qual o melhor para você não cabe a mim dizer. Juro que esse post não é pago, quem me dera! Rs
Minha intenção é alertar mulheres, fazê-las refletir, questionar conceitos sociais e próprios na busca das suas individualidades, liberdades e real felicidade. É lembrá-las que independente do que querem, uma relação ou algo casual, não somos e não podemos permitir que nos tratem como objetos.
Pense e repense o que busca, só então dê o passo na direção do seu objetivo. E continue a se ouvir ao longo do caminho. Permita-se mudar o sentido, a opção, a roupa, o cabelo e sobretudo suas relações pessoais. Você não é obrigada a NADA!