Todo os anos, há mais de um século, celebra-se o Dia Internacional das Mulheres. Mas assim como o mundo demorou para reconhecer a sua importância (em algumas partes essa data ainda é desconhecida, diga-se de passagem), eu também.
Não sei se por ter nascido e vivido a minha vida inteira numa cultura machista como a brasileira, onde mulheres são parabenizadas, ganham flores e chocolates no dia 8 de Março, mas ainda recebem salários menores do que os homens, são espancadas por seus companheiros e sofrem preconceito de, pasmem, outras mulheres por não quererem mais estar em um \”bom\” casamento ou simplesmente usarem roupas curtas e justas.
Mas hoje quando acordei não pude levantar da cama antes de ler todas as mensagens me parabenizando pelo Dia das Mulheres. Confesso que uma lágrima escorreu dos meus olhos. Me emocionei mais do que ser parabenizada pelo meu aniversário eu acho. Acredito que seja porque hoje me sinto realmente especial por ser mulher.
Tenho certeza que ter me afastado das minhas referencias brasileiras e estar vivendo em uma cultura diferente por dois anos tem sido fundamental para isso. Enquanto estava no Brasil não importava o quanto as pessoas queridas me dissessem o quanto era forte, linda, maravilhosa, guerreira, iluminada e outras tantas qualidades que no dia de hoje são ditas às mulheres, eu só conseguia enxergar os meus defeitos. Viver numa sociedade onde ainda é exigido que a mulher seja perfeita tem um impacto maior do que podemos imaginar na nossa vida.
Foi preciso dois anos sendo perfeitamente imperfeita, me apropriando de cada lindo defeitinho meu para me sentir feliz e sim, forte, guerreira, vitoriosa, linda, inteligente e amada.
O mais curioso é que mesmo não reconhecendo isso em mim antes sempre enxerguei isso nas mulheres que passaram pela minha vida. Sempre fui do tipo que incentivava uma empreitada ousada de alguma amiga, mesmo tendo me esquecido da minha ousadia; estimulava um sonho de uma menina, mesmo tendo guardado os meus tão bem que mal conseguia saber quais eram depois de um tempo.
Uma vez, já casada com o Príncipe Encantado, estávamos na casa de um dos seus familiares para dar as boas vindas à noiva de um primo na família quando conversávamos sobre profissão. Me lembro bem da sensação de desprezo, os olhares de fuzilamento e das meias palavras querendo dizer \”isso não é problema seu\”, quando a menina disse que o seu sonho era ser estilista, mas que ela desistiu pois achava que não se dedicaria direito à família e eu disse que se era um sonho ela não deveria desistir. Mal sabia eu que já havia absorvido aqueles olhares, as mesmas críticas, o boicote contra mim mesma. E eles estavam tão arraigados em mim que era impossível ter o mesmo olhar generoso que tinha para com as outras pessoas para mim mesma.
E assim, seguia negando tudo em mim que achava que era impróprio para aquela família e aquela sociedade: um descontrole momentâneo, um ciuminho de vez em quando, inseguranças bobas, alterações de humor, minha rebeldia, minha amizade com pessoas de todos os gostos e sexos, minha sensualidade, minha espontaneidade, minha ousadia, minha alegria, minha loucura sã, minhas estrias, celulites, o cabelo com personalidade própria, o meu jeito único de ser. Até tomar hormônios durante toda a vida eu tomei pra não sentir os desequilíbrios físicos e emocionais típicos do ser feminino.
Mas cheguei aqui, outro mundo e resolvi me permitir ser o que nunca havia sido: eu mesma. E não é que descobri que era daí que vinha a minha força? De tudo que sempre neguei.
Então hoje, neste dia 8 de Março de 2019, só desejo a todas as mulheres que optem por tentar descobrir a si mesmas, e sintam a força, a beleza e felicidade que há dentro delas. E aos homens, que façam o mesmo, assim não esperarão por mulheres perfeitas e incompletas que lhes façam sentir seguros, mas mulheres imperfeitamente felizes que escolheram estar com eles por serem grandes homens, igualmente imperfeitos.
Hoje, celebre a si mesma, com todos os seus lados Princesa, Bruxa, Madrasta, Fada Madrinha, Sá-Fada, Ogra, Sexynderela e qualquer outro ladinho que você possa ter reprimido, sem autocríticas, sem preocupação com as críticas alheias.
Hoje vista a melhor fantasia de si mesma.
Feliz Dia, Princesas!