Fim de semana passado eu parei. Parei de vez. Passei o fim de semana inteiro deitada, me revirando, entediada. Tentando encontrar num livro, num filme e até na paisagem a saída do meu isolamento físico e da minha mente atolada de pensamentos.
Na sexta-feira que antecedeu aquele fim de semana, fui dormir tarde de novo, depois de quase três semanas dormindo bem pouco. Mudança de casa, muito trabalho, adaptação com os novos roommates, a chegada do verão e aquela vontade de aproveitar todos os dias lindos como se fossem o último – morar em um lugar onde a maior parte do ano faz frio talvez não seja mesmo bom para o meu equilíbrio emocional.
Tudo isso culminou numa outra noite curta, não porque tinha que acordar cedo para o trabalho, mas porque sonhei que o meu quadril direito doía horrores e logo em seguida acordei com as dores. Levantei, tomei café e comecei a sentir as outras dores do corpo que haviam surgido há duas semanas: os joelhos. Então me dei conta de que teria que parar ou o meu corpo pararia comigo de vez. Mandei mensagem para o chefe, avisei da situação e deixei claro que se não estivesse preocupada não faltaria. Ele entendeu sem nem fazer muito esforço. Quem não entendia era eu. Que porra estava acontecendo com o meu corpo? Como poderiam aparecer tantas dores novas assim em tão pouco tempo?
Comecei a recaptular (a minha velha mania de tentar entender tudo). Passei muitas horas em pé no dia da mudança e acordei com os joelhos sensíveis, ainda assim, naquela semana eu fui na academia, subi os 60 andares aos quais aprendi a gostar e foi então que comecei a sentir novas dores no joelho, diferentes das já conhecidas pela minha falta de cartilagem nessa articulação. Como se não bastasse, comecei a trabalhar mais ainda, ficando mais horas em pé. E quando mais precisava descansar é que me vi ao lado de roommates tão cheios de energia quanto eu, me convidando pra sair com eles e aproveitar a minha verdadeira paixão – a vida!
E nessa correria, nessa vontade de aproveitar a vida, um anseio me atrapalhava, ocupando um tempo valioso da minha mente, fazendo com que a velocidade das coisas parecessem ainda mais rápidas, sugando uma quantidade enorme de energia do meu corpo, tornando meus dias mais exaustivos.
Eu tinha que parar, meu corpo tinha que parar, a minha mente tinha que parar por uns dias, recarregar, para que eu pudesse descobrir para que caralho eu tava correndo tanto, principalmente pensando tanto, se comecei a ser feliz quando realmente parei de me preocupar, de me planejar tanto.
Eis que sem nem precisar me perguntar, a resposta veio.
Ao final dos dois dias praticamente deitada, a carência que sempre existiu de ter aquele alguém ao meu lado gritou de forma ensurdecedora quando me senti mal porque um novo crush, com quem nem rolou uma conexão especial, começou a me tratar diferente. A mudança de comportamento e o sentimento de rejeição me deram uma surra e me jogaram na cama juntamente com as dores físicas do meu corpo. Demorei a dormir, de novo. Mas percebi, clara e talvez finalmente, que todo esse tempo eu estava inconscientemente tentando encontrar no primeiro cara super interessado em mim alguém a preencher esse buraco no meu peito que existe há muito e muito tempo.
Não é fácil perceber isso se ainda por cima você é do tipo de pessoa que prefere ter um bom parceiro ao seu lado do que beijar um boy diferente a cada fim de semana. E, apesar de saber e concordar com todas as teorias do tipo \”você não é meia laranja\” ou \”você tem que se sentir completo, assim estar acompanhado será questão de escolha\”, nunca foi bem assim que funcionou comigo desde que esse enorme buraco da carência apareceu. E pra ser bem sincera, quando na vida, eu, uma pessoa de pessoas, vou me sentir completa sozinha? Jamais! Se eu não falar com um ser humano ao menos no meu dia surto, meu cérebro provavelmente vai pensar que estou vivendo em alguma outra dimensão. Sempre fui assim, desde moleca. Saio por aí fazendo amizades, falando com Deus, o mundo e comigo mesma. Acho que ser sozinha nunca foi pra mim. Gosto de ter meus momentos comigo mesma respeitados, mas estar cercada por pessoas que adoro, ver os seus sorrisos e sorrir com elas é algo que realmente faz parte do que é felicidade pra mim.
Assim que percebi tudo isso, pude finalmente pegar no sono e algo mudou dentro de mim naquela noite. Apesar do cansaço de ter dormido pouco, no dia seguinte acordei com uma vontade de ser livre, como se aquele buraco tivesse de repente sido preenchido. Foi uma sensação bem estranha. Acho que nunca me senti verdadeiramente assim, nem quando me imaginava solteira o resto da vida, antes de conhecer o Príncipe Encantado.
Não posso afirmar que aquele buraco foi mesmo preenchido, não sei se isso poderia acontecer assim de repente. Só sei que senti uma enorme vontade de continuar conhecendo o mundo, as pessoas e a mim mesma. E senti também um despreparo total para adentar em qualquer relação séria com outro ser humano. Não por medo. Só senti aquela necessidade de precisar conhecer mais das pessoas, mais de mim, de estar pronta pra isso. E faz tanto sentido quanto tão contraditório isso possa aparecer. Acredito que como em qualquer área da vida, só se pode estar pronto para uma relação se você já praticou bastante o \”se relacionar\”, principalmente com você mesmo. Então, não, não evitarei entrar de cabeça numa relação se esse for o meu real desejo. Mas não sinto mais que engatarei numa relação com o primeiro cara \”legal\” que parecer.
Algo me diz que agora vou conseguir caminhar nessa área da minha vida. E quando tiver que ser, fluirá, naturalmente, sem pressa. Afinal de contas, quando a gente corre muito pra tapar esses buracos, além de se machucar, ainda podemos perder um sapato pelo caminho e acabar atraindo o primeiro idiota travestido de Príncipe que aparecer. Então, pra que a pressa, Cinderela? Não corre, caminha…