{:br}Aproprie-se do seu destino, liberte-se!{:}{:en}Own your destiny, free yourself!{:}

Ser mulher não é fácil. Acho que já disse isso aqui algumas vezes. Não me levem a mal, não entendam isso como uma série de lamentações, reclamações repetitivas sem propósito. Não seria leviana a esse ponto.

Desabafo, choro literal e metaforicamente entre as linhas aqui escritas, mas quando trato de dizer que nascer sob o gênero feminino (não vou nem mencionar os efeitos astrológicos que repercutem na minha data e hora de nascimento) nesse mundo violento sob a dominação do masculino faço-o como constatação.

Se há algo de repetitivo nisso é o fato de continuarmos a passar pelas mesmas agressões que sofríamos há milhares de anos atrás, sob formatos diferentes, com rostos encobertos, fantasiadas de proteção, de amor, de cuidado, de leis não exatamente justas ou da ausência delas. Um narcisismo social, disfarçado de empatia. Um universo de contradições.

Para nós mulheres não é mais fácil porque somos mais fortes, como dizem por aí. Só estamos mais acostumadas à dor. Se tem uma coisa que nos ensinaram ainda meninas foi que estávamos predestinadas a sofrer. Então, claro, melhor acreditar em um príncipe encantado que nos salvará de todas as mazelas do abandono social e sermos perfeitas o suficiente para que ele também nunca nos deixe!

É difícil não ser vítima enquanto mulher. E por mais fortes que sejamos, por mais conscientes que nos tornemos, algumas vezes será um desafio maior ainda não vitimizarmos a nós mesmas, sob uma condição de dor profunda, após tantas batalhas, inúmeras feridas de guerra e um sentimento de solidão inesperado. Andar sozinha sim, sermos excluídas não. Afinal, nenhum ser humano ordinário aprendeu a lidar com rejeição.

Vivemos sob esse constante medo. Alertas, ameaçadas, externa e internamente. Assim, vamos sabotando nosso presente, questionando nossos planos, duvidando dos nossos mais íntimos anseios, sonhos.

Por medo de nos abandonarem, nos abandonamos, por medo de sofrer, sofremos, por medo da solidão, nos colocamos sozinhas, num canto escuro de um quarto vazio, deixando o melhor de nós, a nossa liberdade, nossa rebeldia, independência e amor isolados de todas as possibilidades de uma vida completa, uma alma preenchida.

Ser mulher é foda sim, mas não nascemos para sofrer. O mundo quer que continuemos vítimas. É doente, dependente. Cabe a nós escolhermos e nos mantermos firmes na nossa escolha. Porque ainda que optemos por seguir sozinhas, jamais estaremos. Não importa a sua fé. Olhe a sua volta, amplie a sua visão. Somos milhares, milhoes, bilhões de mulheres sofrendo pelas mesmas injustiças, muitas das quais passamos a maior parte da vida ignorando.

A razão é simples: escolher nosso p´roprio caminho não é optar pelo mais fácil. É provável que seja mais difícil. Estamos remando contra a maré revolta do mundo hostil onde a palavra do homem, de uma cultura opressora, repressora, limitante dos verdadeiros e mais significativos quereres ainda vale mais do que a nossa. Nossa voz interna, aquela a qual recusamos ouvir, sabe disso.

E mesmo que a escolha seja nossa, ainda vai doer. Tristezas e frustrações são parte da natureza humana. E tá tudo bem algumas vezes só querermos alguém que nos estenda a mão e nos ajude a levantar. Mas se há uma coisa, talvez a mais importante, que não nos contaram quando meninas é que somos nós quem salvamos as nós mesmas.

Perderemos pessoas pelo caminho árduo da decisão de seguirmos fiéis ao nosso eu, nossos sonhos. Deixaremos rotinas seguras, lugares confortáveis e até mesmos desconfortáveis, mas conhecidos. Doerá a ausência na vida daqueles que nos são caros. Passaremos por uma das mais difíceis provas: o desapego. Ah sim, esse dói! Porque não se trata da dicotomia ir e ficar, mas da escolha de deixar ir o que já não pode mais estar.

Choraremos em prantos e outras vezes caladas. Iremos até mesmo nos deparar com a escolha de chorar. Respeitaremos as escolhas alheias, assim como aprenderemos a respeitar as nossas, ainda que com medo, ainda que sob ameaça, mesmo que com dúvidas. Porque se há uma certeza é a de que se tivermos que errar que seja por escolha p´rópria.

Seja qual for o nosso destino, que não o deixemos em mãos alheias, que criemos e cuidemos dele nós mesmas!

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