“Zen” é o caralho!

Há muito tempo acabei “escolhendo” não ser mais tão raivosa. Vivia nervosa, não guardava mágoa mas também não acumulava raiva rs. Mas essa personalidade livre de Merida não servia para o Príncipe Encantado com quem me casei. Para ser a sua princesinha (como ele literalmente me chamava) eu tinha que ser calma, conter os impulsos rebeldes e consequentemente a minha raiva. Lembro me de uma discussão castradora que tivemos em nosso primeiro ano de casados. Estávamos dentro do carro, eu nem lembro porque estávamos brigando, só me lembro de estar muito puta, com a voz alterada e de soltar um “puta que o pariu!” para externar a minha raiva. O príncipe olhou pra mim e disse calmamente algo como “abaixa o seu tom de voz e olha como você fala, senão você vai perder o respeito e eu não sei se esse casamento vai durar”. Oi? Na hora eu me calei e tive vontade de chorar. Embora nunca brigássemos ele deixou claro que aquela não era a mulher com quem ele queria estar casado. E eu queria muito estar casada com aquele Príncipe! Assim, acabei abrindo mão não só dos meus impulsos raivosos mas de qualquer comportamento negativo àquele conto de fadas.
Algumas vezes já cheguei a dizer que o meu casamento me salvou do meu lado Hulk, mas somente agora percebo o quanto aquele lado era necessário pra mim. É claro que fazemos concessões para que uma relação dê certo, mas arrancar uma perna para que você possa se parecer com o seu companheiro aleijado não vai te fazer melhor, não a você mesma e com tempo talvez não a ele.Com certeza aquela relação me ajudou a ser mais paciente e analisar melhor a situação antes de me expressar. Ter um lado zen, mais tranquilo é maravilhoso, principalmente para tomar decisões. Mas quando a situação já passou do limite da minha paciência e eu ainda estou lá tentando ser tolerante e calma já se torna repressão de emoções, pior, é muitas vezes uma arrogância travestida de bons modos, uma tentativa de parecer ser superior, mais racional do que o outro!Analisando bem eu nunca fui do tipo de brigar com um namorado na frente das pessoas e nunca xinguei um deles sequer, então qual o problema em soltar um palavrão e quebrar a porra toda (no sentido figurado, é claro) quando algo ou alguém passa dos limites?Hoje passei em frente a uma obra onde as barreiras que delimitam o terreno estavam marcadas pela palavra “French”. Já tinha passado ali outras vezes e sempre xinguei mentalmente. Mas hoje não me segurei, hoje eu resolvi mostrar o dedo do meio e ainda postar a foto! Uma amiga riu horrores, ela sabia do que se tratava. Eu respondi “reaprendendo a externar a minha raiva”. Ela replicou “adorei”. Por quê ela adorou? Porque essa sou eu! Essa é ela! Assim como muitas outras que por vezes se sentem reprimidas no seu jeito de ser. Sentido-se obrigadas a se comportar ao avesso do que são. Parei! E se por acaso eu me esquecer daquela foto vou me lembrar disso aqui: “Princesinha” é o caralho, aqui é Merida porra!!! 

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