A mãe da Cinderela faz anos e a sorte é só dela (da Cinderela no caso)

Há três semanas sem escrever, ás 3 da manhã dessa noite o aniversário de mamãe me deu uma outra inspiração. Acho que culminou com uma série de acontecimentos: o meu aniversário há duas semanas atrás, três grandes despedidas na semana passada e uma longa conversa com uma amiga ontem à noite sobre como encaramos a vida. Tudo isso ajudou a me levar a esse bocado de insônia cheia de significado.
Apesar das mudanças serem parte fundamental da vida para o nosso crescimento, temos dificuldade de aceitá-las e nos posicionarmos frente a elas.
Fazer aniversário, ou ficar mais velho, como você preferir, é uma delas. Mas apesar de toda a minha dificuldade com mudanças, juro de pés juntos que fazer 36 anos não foi assim tão difícil pra mim. Muito embora todo o meu lado crítico e vaidoso às vezes me cobrar ter coisas que um \”adulto normal\” da minha idade teria ou agir como um \”adulto normal\” da minha idade agiria, tenho orgulho em dizer que me sinto plena em ser anormal rs.
Talvez por isso ultimamente tem sido mais fácil lidar com as mudanças, porque sei que não lido com elas de forma \”normal\”, é difícil, então me preparo, dá pra entender? Deixa eu explicar melhor, a partir do momento que eu enxergo os meus medos e aceito os meus limites consigo lidar melhor quando algo muda. Tá, pra ficar mais simples: \”tudo passa\”, \”aceita que dói menos\”, \”só não tem solução pra morte\”, \”mudanças são sempre pra melhor\” e por aí vai.
Essas não são somente palavras de incentivo postadas no Facebook ou ditas por uma amigo quando você tá na fossa. Princesas, é real, oficial, é fato. Como eu sei disso? Me estrupiando, caindo e levantando, aprendendo e me permitindo viver tudo que eu tenho direito, do meu jeitinho, deixando a minha personalidade solta, sendo quem eu sou, quem eu nasci pra ser, mas sobretudo com mamãe!
Não só porque mamãe sempre me falou essas coisas e me incentivou, não. Mas porque durante muito tempo ela tocou o foda-se para os padrões de casamento e da tão \”tradicional família brasileira\” (parece que agora tá moda falar essa merda pra tentar classificar o que é certo ou errado pra algumas pessoas né…) e a despeito de todas as cobranças de todos os seus papéis ela se embrenhou nas matas da sua auto descoberta me deixando puta da vida!
Isso mesmo, puta, louca da cara, com raiva. Ao mesmo tempo que eu admirava a sua coragem e fé, a minha saudade dela e do que eu achava que era o certo – ter a nossa \”família feliz\” sempre reunida, me fez conhecer o verdadeiro significado da dualidade Amor e Ódio.
Cresci culpando mamãe por ser do jeito que eu era e não no bom sentido. Meu medo de casar e ter filhos, minha insegurança perante qualquer mudança na vida, minha autoestima baixa para acreditar que eu seria capaz de realizar um novo projeto…
Levei muitos anos, um ego enorme derrubado por um casamento de conto de fadas, um divórcio digno de um drama Shakespeariano e uma mudança não planejada para um outro país para que eu começasse de verdade a entender mamãe, assumisse quem eu era e a responsabilizasse pelo que de fato ela me deu.
Se não fosse por ela eu não estaria aqui nas minhas inseguranças seguras vivendo feliz da vida. Não teria tido a coragem de fazer coisas que nunca pensei que pudesse ou que simplesmente não me permitia. Não teria orgulho do meu sorriso largo ou riria do meu jeito distraído de ser. Aliás, se não fosse por ela não teria nem aprendido a rir de mim mesma ou comigo mesma. Eu continuaria a ver um mundo em preto e branco, dentro dos padrões, justo eu, que amo cores e a diversidade. Se não fosse por ela não estaria aprendendo o que é o amor verdadeiro, o amor por mim mesma. Se não fosse por ela eu não teria lembrado quem eu era, quem eu havia deixado esquecida lá trás por achar que tinha que ser diferente. Mamãe, distante ou perto, sempre esteve lá pra me lembrar e me dar uma mão, ou chacoalhão. Se não fosse por ela eu não teria assumido a responsabilidade por ser quem sou, pelas minhas escolhas e por estar escolhendo ser feliz.
Eu não sei se hoje, ao completar 65 anos, depois de toda essa jornada e tanta responsabilidade, mamãe já sabe bem quem ela é. Mas posso dizer que eu sei, e, assim como ela fez comigo, estarei aqui celebrando e relembrando-a por muitos mais anos da sorte que tenho de poder aprender com ela todo santo dia a ser feliz por ser a gente mesmo.
Cheers à mamãe, quero poder continuar culpando-a por ser muito feliz!

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