Quando eu tinha 10 anos vi um menino loirinho do ano anterior ao meu na escola e gostei. Sem pensar, óbvio, porque criança não pensa muito, fui lá e pedi ele em namoro. Não sei se ele teve muita opção ou tempo para decidir, mas ele aceitou rs. Acho que durou no máximo umas três semanas, talvez tenha durado até eu começar a gostar muito de um menino da minha sala, tanto que nunca me esqueci do nome: Bruno Prieto.
Ele gostava da minha melhor amiga, que por sua vez, não estava nem aí pra ele. Eu fiz porque fiz e consegui beijar o Bruno Prieto. Mas não tinha jeito, ele não gostava de mim e a nossa infantil relação não passou daquele beijo. Depois de uns dois anos, quando pedi um beijo para outro menino da escola, acabei esquecendo o Bruno Prieto. E assim continuei orquestrando beijos e fazendo por onde para consegui-los, até que os meninos finalmente começaram a largar um pouco o carrinho e a bola e passaram a tomar a iniciativa.
Então passei pelo fantasma da minha já tão falada e reclusa adolescência e quando sai dela já não era mais aquela menina corajosa, destemida e impulsiva. Passei a ter medo da rejeição, a tentar me vestir e me comportar de modo que agradasse ou não desagradasse a maioria das pessoas e a me preocupar, muito, com o que os outros pensavam.
A necessidade de agir de acordo, agradar o outro e ser como todo mundo, é às vezes tão forte dentro da gente que mesmo que você consiga reencontrar com aquela sua menina destemida aquela voz que passou anos te mantendo dentro das normas e padrões aceitos pela sociedade ainda irá te criticar toda vez que você agir de acordo com o quê o seu verdadeiro eu quer.
Há muito tempo vinha querendo comprar um chapéu vermelho. Já tinha até o produto salvo na minha lista do eBay. Meses e meses se passaram até que eu finalmente comprei. A primeira vez que usei o chapéu pedi opinião para todos de casa antes de sair para saber se eu estava combinando, embora eu soubesse que sim e me sentisse linda com ele. Resolvi finalmente encarar e sair com o chapéu na cabeça. Levou um bom tempo até que eu acostumasse com o acessório e os olhares, mas quando acostumei não conseguia mais tirar. A sensação de liberdade e autenticidade é tão grande que a segunda vez que o usei foi para ir num encontro. Aquela voz crítica tentou me dizer \”Você vai usar o chapéu no primeiro encontro? Vai assustar a pessoa, é muito… chamativo\”. Tenho que confessar que hesitei, por um segundo, mas no segundo seguinte eu pensei \”se a pessoa se assustar com a minha personalidade é porque ela não é pra mim\”. Saí com o chapéu, sem dúvida nenhuma, e me sentindo extremamente dona de mim.
São muitos os chapéus vermelhos que deixamos de usar ao longo das nossas vidas porque estamos preocupados, no fundo, com o que os outros vão pensar. São tantos os pensamentos castradores que temos que convencemos a nós mesmos que não fazemos isso ou aquilo porque não nos sentimos bem com a gente mesmo.
Outro dia fui a um bar com uma amiga muito querida e ela começou a elogiar a minha blusinha de frente única e costas bem abertas. Eu disse que a minha irmã havia me dado e que geralmente não uso frente única porque não gosto muito da sensação de algo me apertando o pescoço, mas que aquela era bem confortável. Ela disse que achava linda e que quem dera ela pudesse usar. Eu perguntei o porquê não poderia. Então a minha amiga me disse \”ah eu já não tenho mais essas costas magrinhas\”. Eu ainda tentei argumentar dizendo que as minhas costas agora são marcadas de manchas de espinhas, mas que eu quero mais é que se foda! Não é que as manchas não me incomodam, mas simplesmente tento não olhar para as minhas costas e ver somente as marcas que adquiri desde que parei de fazer uso do anticoncepcional. Não adiantou, a minha amiga disse que não sentiria bem usando aquela blusa. Fiquei triste por ela, talvez ela não saiba o quanto é linda ou talvez aquela voz crítica seja bem autoritária na cabeça dela.
Eu sei bem como é. A minha estava me impedindo de viver, de me relacionar, de dizer o que sinto, saber como eu me sinto, de beijar!!! Sim, passei a minha vida adulta esperando a atitude dos caras. Esperando eles perguntarem o meu nome, esperando eles me cantarem, esperando a hora em que eles iriam me beijar, só esperando… Com medo! Medo de ser rejeitada, medo de agir na hora errada, medo de me julgarem independente demais, ou carinhosa demais… Eram tantos medos que eu já não sabia mais nem o que queria. Porque é tão bom, mas tão assustador saber o que quer. Dá medo mesmo querer muito uma coisa. E se não podemos alcançá-la? E se alcançamos e a perdemos depois?
Ahhh, mas o mundo do \”e se\” é muito limitante, chato e não deveria nem existir. Não tem como saber o que vai acontecer no minuto seguinte. Não podemos controlar isso. A única escolha que podemos fazer é a de viver de acordo com as nossas verdadeiras vontades ou não. O depois é uma belíssima surpresa para aqueles que acreditam, como eu, que viver com intensidade, com a sua verdade, vale a pena. Para aquelas que convidam o cara para sair ou mandam a mensagem. Para aquelas que são as primeiras a dizer \”eu te amo\” ou \”quero você dentro de mim agora!\”.
O depois dá pra deixar pra depois. Se machucar, se não for como você esperou, porque a gente sempre espera, faz como quando era criança, abre o berreiro, corre pro colo da mãe e quando menos esperar vai ter passado. Mas viva! Use o seu chapéu vernelho, amarelo, seja qual cor ele for. Vista a sua roupa apertada e deixe mostrar alguns quilos extras do prazer que você teve de comer um pouco a mais. Ligue se tá com vontade de ligar. Abrace se quer abraçar, transe se quer transar, peça o beijo, beije, agarre! Abuse e se lambuze na sua liberdade de ser. Seja! Eu? Ahhh, já faz um tempo que eu não espero mais, eu beijo mesmo!